Filosofia não é panaceia

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Em muitos grupos que têm “intelectual” por alcunha, o carro chefe dos seus círculos de estudo — quando não círculos viciosos, muitas vezes — têm sido a Filosofia. Os discípulos reúnem-se diante de textos “sagrados” e ouvem atentamente o desvelar ortodoxo e quase iniciático das mais diversas divagações e devaneios do líder acerca da obra. Se tais comentários são embasados em estudo rigoroso e fundamentado, pouco importa! O importante é que fará eco quando chocar-se com os desejos dos corações dos ouvintes. “O comentário é excelente, fala o que quero ouvir”.

Triste fim é esse o da Filosofia! Sequestraram-na! Tornou-se objeto de validação dos escusos propósitos que, de filosóficos, nada têm.

E prosseguem… prosseguem dizendo ser a Filosofia a solução para os problemas da humanidade. Mas não qualquer filosofia, a sua filosofia! O que vem diferente disso, anathema sit!

Não bastava termos que engolir a Filosofia vendida como “filosofia de vida”, “filosofia da empresa” etc., agora é preciso aceitar que ela foi sequestrada para ser a “ambrosia dos escolhidos”, o lugar-comum dos sábios de uma frase só, e que a oferecem para tudo quanto é problema: social, intelectual, moral, espiritual. Vendem-na, quase sempre, os que nada sabem de Filosofia; vendem-na os que leram um livro só e já são especialistas; vendem-na os que a conheceram ontem, mas que já possuem críticas mordazes a Aristóteles, fundamentadíssimas nas “vozes de sua cabeça”.

Mas que problema há com quem quer vender asneiras e caoticidades? Nenhum, não é mesmo?! O problema está em quem compra tudo isso. Aí, meu amigo, é que está a curta e rápida corrida da “vaca pro brejo”.

É triste ter que constatar, no dia dedicado à Filosofia, que ela virou moeda de troca de muita gente ruim, mal intencionada, que a oferece como o remédio único e último a todos os problemas humanos. É triste saber que nem mesmo a inquietude é permitida; basta “rezar a cartilha”, e adeus! O propósito é vender a cura, mas sequer pensam a doença. Filosofia não é isso!

Filosofia é caminho, é percurso — por vezes pedregoso — rumo à Sabedoria. Filosofia é o amor que põe em marcha: impulsiona e atrai. Filosofia é o deleite do azedume da inquietude. Filosofia é, como dizem os manuais, o “amor da Sabedoria”. Vendem-na, mas nunca querem vivê-la.

Mas afinal, já tem Filosofia para dor de dente?

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