A “Regra de Ouro” é um princípio ético presente em diversas culturas e tradições religiosas sintetizada em uma frase: “Não faça aos outros o que você não quer que façam a você”. Enfatizando a reciprocidade nas relações, sugere que as nossas ações devem ser guiadas pelo respeito ao outro e à sua dignidade.
Chamar de “Regra de Ouro” esse princípio moral é bastante significativo, porque a ação pode ser bastante penosa e demorada, assim como o é a busca pelo áureo mineral. A Regra de Ouro, como uma pedra filosofal da ética, convida-nos a transcender o egoísmo imediato e a abraçar uma ética de reciprocidade. Tal princípio ecoa não apenas nas grandes tradições religiosas, mas também nas tramas mais intrincadas da literatura e da filosofia.
Não fazer para o outro o que você não quer que seja feito a você não quer dizer que é para fazer ao outro o que fazem a você, mas para devolver o que você gostaria que fosse feito, afinal: amar é não esperar ser amado.
Na literatura, por exemplo, vemos a encarnação dessa regra em personagens que, apesar das adversidades, tentam agir com uma nobreza que transcende à mera sobrevivência. Na obra “Crime e Castigo”, Dostoiévski explora a alma humana em toda a sua complexidade revelando tanto a inclinação para o mal quanto para o bem, tecendo uma reflexão profunda sobre justiça e redenção. O ato final de contrição de Raskólnikov é um retorno à ideia de que a verdadeira justiça só pode ser alcançada através do reconhecimento do outro como um igual, digno de ser amado não porque é bom, mas porque, para além de qualquer coisa, é um ser humano.
Mas isso não está apenas em Dostoievski. Chesterton, por exemplo, percebeu na obra de Villeneuve que “há uma grande lição na ‘Bela e a Fera’: tem coisas que precisam ser amadas antes de ser amáveis”. A tarefa de amar quem não merece ser amado é libertadora para quem ama e para quem é amado, mas, tal como o ouro, precisa passar pela prova do fogo. Dói, mas cura e valora o que é imperfeito e impuro.
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