Esta semana tem sido particularmente chata. Entre trabalhos pendentes e deveres próprios de casa, fui visitado por uma não convidada enfermidade. Mesmo desejoso de dar cabo das tarefas, o corpo gritou pelo seu tempo próprio para enxotar a indesejada. Enquanto isso, restou-me o desejo… vencido.
Em algum momento, mais cedo ou mais tarde, todos enfrentaremos essa realidade. Nem sempre se trata de uma questão de “força de vontade fraca” (rs) – às vezes, são as próprias circunstâncias que nos forçam a abandonar nossos projetos e objetivos. Uma doença inesperada pode nos roubar a energia e a disposição, transformando nossa jornada diária numa constante batalha pela sobrevivência.
O peso do cotidiano se manifesta de diversas formas. O cansaço acumulado da rotina exaustiva vai “sugando” nossas forças, fazendo-nos chegar em casa apenas com um desejo: o de descansar. Projetos e aspirações que antes nos moviam com tanto entusiasmo vão sendo gradualmente deixados de lado, como folhas levadas pelo vento.
A vida tem uma maneira peculiar de nos surpreender, especialmente quando o sofrimento toca aqueles que amamos. Nestes momentos, nossas prioridades se transformam completamente. O que antes parecia fundamental se torna secundário, enquanto concentramos nossa energia e atenção no cuidado com nossos entes queridos.
O desejo vencido, portanto, não representa necessariamente uma derrota, mas sim um testemunho de nossa humanidade. É quando a vida real nos puxa do “sonho” ao “feijão” (numa brincadeira com o título de Orígenes Lessa). É o reconhecimento de que, às vezes, precisamos fazer pausas, recuar e respirar. É compreender que, embora não possamos controlar todas as circunstâncias, podemos escolher como reagir a elas.
Quando tudo vai bem, a confiança do Super-Homem nos toma por inteiros, até que a vida, sacana e sutilmente, dá-nos uma rasteira. A verdadeira força talvez não resida na vitória constante, mas na sabedoria de reconhecer quando é hora de adaptar-se e buscar novos caminhos. Como uma chama que diminui sua intensidade, nossos desejos podem ser temporariamente vencidos pelo tempo, pelas circunstâncias ou pelo cansaço – mas isso não significa que estejam extintos.
No fim, um desejo vencido pode ser apenas um desejo em transformação. Ele pode estar adormecido, aguardando o momento propício para despertar com nova força e significado. Pois assim como as estações mudam e os ciclos se renovam, também nossos desejos podem ressurgir quando as circunstâncias se tornarem mais favoráveis e recuperarmos as forças necessárias para persegui-los novamente.
É nesta dança entre aceitar o presente e manter viva a esperança no futuro que encontramos nossa verdadeira resiliência. O desejo vencido hoje pode ser apenas o prelúdio de uma nova jornada amanhã.
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